Estudantes enfrentam maratonas de estudo para ingressar em instituições militares.

No ano passado, o rosto do estudante João Lucas Fernandes, de 18 anos, estampou sites do Brasil inteiro. O morador de Recife ficou com o primeiro lugar geral da Universidade de Brasília, pelo Sistema Integrado de Seleção Unificada (Sisu), e da Universidade Federal de Pernambuco, pelo vestibular tradicional. Mas ele não fez matricula. Queria uma vaga no Instituto da Aeronáutica (ITA), onde não obteve tanto sucesso.

— Não passei por quatro pontos — lembra João, que, este ano, reforçou a preparação. — Agora, estudo quatro horas pela manhã, passo a tarde e a noite no cursinho e ainda estudo mais duas horas antes de dormir.

Candidatos que sonham com instituições como o ITA, em São José dos Campos (SP), e o Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro, sabem que não há tempo a perder. Enquanto a maioria dos colegas se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado por temas diversos, eles enfrentarão provas complexas, com conteúdo específico em Física, Química e Matemática. Isso, sem contar com disputa acirrada: nos últimos concursos, a concorrência tem girado em torno de 60 candidatos por vaga.

— Estamos seguramente falando dos vestibulares mais difíceis do Brasil — diz o diretor de ensino do Colégio pH, Rui Alves. — São provas cujo aprofundamento é muito maior do que outros vestibulares. Alguns conhecimentos são exigidos em nível de universidade.

Segundo o chefe do setor de vestibular do ITA, Luiz Carlos Rossato, essa dificuldade serve para balizar o aluno sobre o que terá pela frente.

— Buscamos pessoas com raciocínio rápido e gosto pela superação. Precisamos garantir que os estudantes tenham interesse e curiosidade sobre o que vão aprender — diz.

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Já o coordenador do Vestibular do IME, major Ermírio de Siqueira Coutinho, destaca que não há como “chutar” na prova discursiva:

— A maioria das questões combina numa mesma pergunta conceitos diferentes, obrigando o candidato a dominar a matéria num sentido mais amplo.

Em provas tão difíceis, o apreço por desafio é fundamental. O aluno do 3º ano do Colégio Pensi, Eduardo London, de 17 anos, adora esta palavra.

— Escolhi Engenharia da Computação no IME justamente por ser a mais difícil. Quem passa vê que nenhum desafio é impossível — comenta o garoto, que se prepara desde o primeiro ano. — Pretendo cumprir um cronograma com cerca de 10 mil exercícios e devo virar algumas noites.

Assim como a maioria dos colegas, ele também vai fazer o Enem no fim do ano. Mas já adianta que o foco é outro.

— Farei para ter mais possibilidades e pelo Ciência sem Fronteiras. Se não passar no IME, tento mais um ano.

Apesar de minoria, as garotas também estão nessa briga. É o caso de Gabriella Aguirre, de 17 anos, que está no segundo ano e estuda para conquistar uma vaga em Engenharia Civil no IME. Aluna do Colégio Militar, ela faz cursinho preparatório por fora. Mesmo nos dias de folga, vai para colégio estudar.

— Não tenho nenhuma amiga que vá tentar um desses vestibulares e sei que só 10% dos alunos do IME são mulheres. Mas isso me estimula. Até vou fazer outras provas, mas estou disposta a tentar mais de uma vez — comenta.

Quem também está determinada a engrossar a presença feminina na instituição é Fabiana Ferreira, de 17 anos. Aluna do 3º ano do Pensi, ela está de olho na carreira militar:

— Já fui um pouco rebelde, e só de começar a estudar para este vestibular minha postura mudou. Gosto da ideia de trabalhar tendo a disciplina como fundamento. Quero essa experiência para a minha vida.

Fonte: O GLOBO